A Próxima Geração Precisa de Você

Quando eu tinha 17 anos, eu estava em um evento e eu me lembro que tomei uma decisão séria com Deus. Eu tomei a decisão de que eu não iria mais brincar com Ele. Se era para levar a vida a sério com Deus, eu ia fundo. Eu não queria que a minha vida fosse medíocre, que simplesmente passasse pela história – eu queria que Ele me usasse para fazer a diferença. Hoje eu percebo como Deus foi gracioso – tudo o quanto ele fez na minha vida, através da minha vida. Contudo você tem que ficar esperto porque a vida passa muito mais rápido que você imagina. Eu ouvia isso dos meus pais e eu não acreditava – falava “isso é coisa de velho”. Hoje eu percebo como a vida passa muito rápio. Você tem que fazer um bom uso do tempo. Você tem que tomar uma decisão acerca de como você vai querer ser conhecido na história. Você tem que tomar essa decisão enquanto você tem tempo de ser usado na história.

Há um tempo atrás eu estava em algum canto, em um lugar que eu não me lembro exatamente aonde isso aconteceu, mas alguém falou alguma coisa pra mim assim: “um erro recorrente nos movimentos históricos que fizeram diferença numa geração é que seus líderes estavam ocupados demais para preparar os líderes da próxima geração. Então, quando os líderes desses movimentos morrem, os movimentos morrem com eles.” Quando eu ouvi isso eu parei e pensei “eu não posso deixar que o movimento que eu faço parte morra junto comigo e com os meus amigos que hoje lideram. Eu preciso fazer alguma coisa pra começar a derramar minha vida na vida de outros”. Eu tomei a decisão de que eu ia chamar cerca de 30 jovens pastores com menos de 35 anos de idade para perto, investir todo ano 2 retiros com eles e me aproximar mais deles porque eu preciso investir na próxima geração.

Que a geração atual continue fazendo diferença, continue mudando a vida e a visão da igreja brasileira. Pedro na sua primeira carta no capítulo 5 diz “da mesma forma jovens” e no verso 6 ele diz “humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus pra que eles exalte no tempo devido.”

Uma outra palavra que eu encontro no Novo Testamento destinada a jovens que me chama muito a atenção é a primeira carta de João capítulo 2, quando João fala pela segunda vez “jovens eu lhes escrevi porque vocês são fortes”. Eu começo a entrar na idade que começo a entender que realmente os jovens são fortes. Eu não aguento mais o tranco para algumas coisas. Eu não consigo fazer mais do que eu fazia quando eu tinha 20 anos de idade ou 25 anos de idade. Se eu tivesse 25 anos de idade eu ia gastar toda a minha energia no Senhor e para o Senhor. “Jovens vocês são fortes e em vocês a palavra de Deus permanece”. E aí vem uma conclusão “e vocês venceram o maligno”. Mas vocês venceram o maligno não porque vocês são fortes – vocês venceram o maligno porque a palavra de Deus permanece em vocês, não é porque vocês são fortes. 

Permita-me destacar três marcas. As marcas de um líder missional da próxima geração.

A primeira marca: vida transformada e centrada no evangelho.

O líder missional da próxima geração é alguém que foi impactado pelo evangelho de Cristo, compreendeu o evangelho, se rendeu ao evangelho e vive a partir do evangelho. Muitas pessoas das nossas igrejas, inclusive jovens, não conhecem o evangelho. Pessoas dentro das nossas igrejas vivendo religiosidade evangélica, inclusive jovens. Em muitas igrejas o evangelho não é pregado mais, por isso muitas pessoas ainda não compreenderam, não se renderam ao evangelho que nos diz que um dia Deus criou todas as coisas em plena perfeição. Tudo estava de forma harmônica muito bem equilibrado, mas os nossos primeiros pais se rebelaram contra o Deus Criador. Eles disseram para o Deus Criador “Deixa que a partir de agora a gente cuida. Deixa que a partir de agora a gente sabe lidar com a coisa”. E quando os nossos primeiros pais fizeram isso todo o caos ameaçou voltar no universo. Nosso Deus sustentou o universo para que o caos não voltasse a reinar. No entanto, tudo se desestabilizou.

Quando nós olhamos a sociedade hoje, as injustiças, a violência, o câncer, crianças morrendo de fome, pais se separando fazendo com que filhos sofram, tudo isso não foi plano de Deus. Tudo isso é fruto da decisão que os nossos primeiros pais tomaram. Mas o nosso Deus Criador nos ama a tal ponto que Ele não fica apático a tudo isso – Ele entra na história. Ele entra na história na pessoa de Jesus para nos resgatar e naquela cruz Ele está morrendo por mim e por você, Ele está se entregando pra pagar uma dívida que é nossa, Ele está nos reconciliando – nós os rebeldes que não merecíamos perdão, Ele paga para nos oferecer o perdão. Ele paga com seu próprio sangue. Agora Ele nos convida para nos rendermos ao que Ele fez na cruz. Acolhemos o perdão dele e nos tornamos seus discípulos na história, brilhando e fazendo diferença na história.

Jovens precisam compreender o evangelho. Muitas vidas não são transformadas porque o que existe é ativismo cristão – o que existe é religiosidade evangélica e não evangelho.

A segunda marca: o líder missional da próxima geração tem olhos atentos à cultura de sua geração.

Olhos críticos ao que está acontecendo, olhos críticos à globalização, olhos críticos à cultura da época. Existe um perigo muito grande hoje em dia de nós nos tornarmos idólatras de uma cultura, de acharmos que o nosso padrão tem que ser o que a cultura, o que a maioria está fazendo. Líderes que vão fazer diferença são pessoas altamente centradas no evangelho e tem olhos atentos, olhos críticos para ler o seu tempo. São como os filhos de Issacar quando Davi foi feito rei de Israel. Davi é feito rei de Israel porque os filhos de Issacar eram conhecedores do tempo, eram conhecedores da época. Eles olhavam atentamente, percebiam o que estava acontecendo e não acolhiam os modismos de maneira crítica, não acolhiam os valores e princípios da cultura sem refletir, sem pensar, sem deixar que tudo aquilo passasse pelo grifo na palavra de Deus.

A terceira marca: o líder missional da próxima geração é um compromissado na construção da igreja.

Porque construir a igreja não é uma opção para quem é discípulo de Cristo. Jesus disse “eu edificarei a minha igreja”. Se eu sou discípulo Daquele que disse que vai edificar a igreja a minha missão na história é participar, não da minha própria missão, mas da missão Daquele que me enviou.

O grande problema é que algumas pessoas acham que a igreja é uma fortaleza que a gente constrói num alto de uma montanha para nos defender do mundo e da cultura hostil. A igreja de Cristo é a comunidade dos discípulos que são enviados ao mundo pra destruir as portas do inferno, para fazer diferença na sociedade. Quando nós falamos de igreja missionária nós estamos falando da essência do que a igreja é: uma comunidade de discípulos voltada para a história para fazer diferença na história e ir atrás dos filhos perdidos do Pai.

Os perigos dessa caminhada do líder missional.

Para aqueles que conhecem o Mark Driscoll o fato de citar os alertas quanto a perigos na caminhada de um líder missional pode ser muito sugestivo. Contudo, em um dos seus livros, ele faz um gráfico muito interessante:

EVANGELHO + CULTURA – IGREJA = MISSÃO PÁRA-ECLESIÁSTICA
Se você tiver evangelho mais a cultura menos a igreja ou seja não tiver envolvimento com a igreja local o que você tem é uma missão pára-eclesiástica. Eu cresci em um ambiente de uma missão pára-eclesiástica. Nós falávamos do evangelho, nosso discurso era centrado no evangelho, a gente discipulava pessoas a partir do evangelho, nós éramos muito contextualizados, estavamos muito próximos da cultura. Quando a gente ia falar numa praça de prostitutas e travestis a gente procurava usar a linguagem deles. Quando a gente estava num presídio a gente procurava usar a linguagem daqueles homens ou mulheres do presídio. Quando a gente estava numa escola ou universidade a gente tentava usar a linguagem da escola ou da universidade. O único problema é que aquilo não era igreja. O que a gente tinha era uma missão pára-eclesiástica.

CULTURA + IGREJA – EVANGELHO = LIBERALISMO TEOLÓGICO
Uma outra opção é essa: você tem a igreja e é uma igreja altamente identificada com a cultura mas deixou o evangelho do lado de fora. O que você tem aqui é liberalismo teológico. Muitas igrejas e líderes evangélicos, grandes pregadores, estão abraçando a cultura para que o seu discurso se torne mais palatável à cultura, para que as pessoas o tenham como uma pessoa inteligente, uma pessoa que fala coisa com bom senso, têm negociado princípios e valores e com isso o evangelho está ficando do lado de fora do discurso. Se fala de bondade, se fala de ação diante do pobre, se fala do cristão que precisa ser um bom profissional, mas não se fala mais do que aconteceu naquela cruz. O evangelho está do lado de fora desse discurso, tá do lado de fora dessa igreja. Por isso pessoas podem até se tornar melhores nessa igreja, mas jamais vão se tornar discípulos de Cristo porque a única forma de alguém se tornar discípulo de Jesus é compreendendo o evangelho e se rendendo ao evangelho que Ele anunciou.

IGREJA + EVANGELHO – CULTURA = FUNDAMENTALISMO
A terceira opção é quando nós temos a igreja mais o evangelho, porém longe da cultura. Nós temos o evangelho, temos a palavra de Deus, estudamos a Bíblia com profundidade, temos grupos pequenos, temos escola bíblica dominical, temos culto doutrinário de quinta-feira. Só tem um problema: ninguém entende o que vocês estão falando porque vocês estão a quilômetros de distância da cultura. Nesses estudos bíblicos, em grupos pequenos, escola bíblica dominical, culto doutrinário, são citados teólogos incríveis, pensadores dos séculos 16 e 17, teologias que foram construídas ao longo da história, contudo tem um problema: tudo isso são respostas certas para perguntas que ninguém está fazendo. O que a gente tem aqui: fundamentalismo.

IGREJA + EVANGELHO + CULTURA = GERAÇÃO MISSIONAL
O que a gente precisa construir para ficar longe desses perigos é um movimento que tem evangelho mais cultura mais igreja que resulta em geração missional. Que todos compreendam a profundidade do evangelho na vida. Que todos percebam as implicações do evangelho para toda a vida, para vida profissional, para a vida afetiva, para a vida sexual, para os relacionamentos interpessoais. Que você aprenda a valorizar a cultura que nos cerca principalmente a cultura na qual você nasceu – a cultura brasileira. Que tentaram nos convencer de que essa é uma cultura demoníaca. A que vem do norte é santa. Eu diria que a que vêm do norte não é nem santa nem demoníaca, mas a minha cultura brasileira também não é só demoníaca. Nós precisamos ter olhos críticos para com a cultura como um todo. Nós precisamos aprender a valorizar as nossas expressões para termos uma igreja que faz sentido para os nossos amigos da universidade. Que faz sentido para os nossos amigos do trabalho, da vizinhança.

Se você quer construir uma igreja que vai alcançar a sua geração você tem que começar a sacrificar os seus ídolos. Você vai ter que começar a sacrificar o jeito que você gosta de louvar. Você vai ter que sacrificar o estilo de música que você gosta. Se você quer construir uma igreja que vai impactar sua geração, você precisa começar a perceber como será a igreja que vai alcançar a sua geração e não os jovens crentes desgostosos das igrejas vizinhas. Esse modelo evangelho + cultura + igreja é o que vai gerar o que a gente está chamando de uma geração missional.

Quais são os compromissos que certamente vão levá-lo a ser um líder na sua geração.

O primeiro compromisso: expor sua geração ao evangelho. Eu não errei a forma como eu fiz no enunciado. Eu não estou falando de você expor o evangelho à sua geração. Eu estou falando de você expor a sua geração ao evangelho. O evangelho é o poder de Deus que transforma a tudo e a todos. Imagine o seguinte: eu tenho um copo de água. Nesse copo eu não tenho água, nesse copo eu tenho um produto radioativo e por ser radioativo as portas foram fechadas. Você não percebe, mas você está no ambiente com as portas fechadas com um produto radioativo no nosso meio há mais de 30 minutos. Sabe o que isso significa? Você nunca mais vai voltar a ser o mesmo. O evangelho é o poder. Eu preciso expor a minha geração ao evangelho. Eu preciso criar situações em que a minha geração entre em contato com o evangelho. Eu preciso fazer com que os meus amigos e amigas convivam no ambiente por alguns minutos com as portas fechadas aonde o evangelho está atuando e eles nunca mais voltarão a ser os mesmos.

Segundo compromisso: impactar a sociedade servindo aos pobres. Sim, quando eu falo de servir aos pobres entendam aqui pobres como sinônimo dos menos favorecidos. Se existe alguém na nossa sociedade que está sofrendo, uma geração missional precisa se engajar em servir essas pessoas. Porque o seu serviço aos que sofrem vai ser a legitimação do que você fala. Essa atual geração é uma geração que cresceu sendo servida. Geração que os pais pensaram assim “eu não quero que o meu filho passe pelo que eu passei”. Isso fez com que essa seja uma geração muito desengajada do serviço aos outros, muito ensimesmada, muito consumista, muito hedonista e a gente tem que reverter esse processo. Porque, entendam bem, nós não somos salvos pelas obras, mas segundo Efésios capítulo 2 nós somos salvos para as obras. Se o evangelho faz diferença na minha vida e na sua vida nós precisamos nos mover na direção daqueles que sofrem nas nossas cidades e fazer diferença na vida deles.

E o terceiro compromisso: transformar a cultura com o seu trabalho. Um erro que talvez possa acontecer num movimento como esse é a gente ter um grande número de pessoas que decidam ser missionários e pastores. Eu diria que é um erro pelo seguinte: se nós queremos transformar uma cultura nós precisamos ter advogados altamente comprometidos com Cristo, nós precisamos ter médicos altamente comprometidos com o evangelho, nós precisamos ter professores na rede pública que dêem aulas extraordinárias não porque eles recebem um bom salário mas porque eles seguem a Jesus, nós precisamos ter servidores públicos, nós precisamos ter políticos, nós precisamos ter artistas, nós precisamos ter músicos compositores, gente que esteja atuando do lado de fora da igreja, influênciando a cultura porque eles servem o Rei do reino e eles estão fazendo diferença na história com excelência profissional deles. Líderes da próxima geração não serão necessariamente pastores e missionários.

Líderes que vão fazer diferença na próxima geração podem ser discípulos de Cristo que decidiram serem médicos que vão mudar a realidade do atendimento na saúde pública, professores que decidiram que vão fazer diferença na educação do nosso país, jovens que decidiram entrar para a política não para ganhar dinheiro mas para fazer diferença na sua cidade, no seu estado, no seu país, artistas que decidiram viver no meio altamente tenso e perigoso para um cristão, porém decididos a brilhar como luz e fazer diferença naquele meio.

O que Deus mandou você fazer, faça com excelência. Faça para honra para a glória dele. Faça para que a cultura gradativamente seja sabotada pelos valores do reino de Deus semeados por você – nas mais variadas áreas da sociedade. Isso é ser igreja para fora, isso é ser igreja comprometida com a missão de Deus no mundo, isso é ser igreja missional. Essa responsabilidade para com a geração atual é uma responsabilidade nossa. Alguém já disse que cabe a cada geração conquistar a sua própria geração.

Ricardo Agreste – diretor do CTPI

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